terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Narrativas de Viagem

Entusiasta manifestação

Assim que Victor Friedlander e eu saímos da rodoviária da cidade de La Paz, depois de comprar passagens de ônibus para Arica (no extremo norte do Chile), nos defrontamos com uma imensa manifestação de produtores de coca da região de Los Yungas, que atravessavam entusiastas frente a nós, enquanto se dirigiam à Praça Murillo, localizada no coração da cidade e à sede do palácio de Governo.



O motivo que os reunia nessa multitudinária passeata era celebrar a despenalização, por parte das Nações Unidas, do hábito ancestral de mastigar a folha da coca. Ao contrário de muitas das manifestações que acontecem por aqui, que são caracterizadas pela violência e o exacerbado protesto social, esta tinha uma conotação totalmente diferente e os seus participantes, que estavam felizes e inspirados, nos presentearam com vários saquinhos de folha de coca de Los Yungas, que segundo os consumidores é a melhor do país.






Confesso que nesse momento o Victor me preocupou por alguns instantes, pois seu ímpeto juvenil levou-o rapidamente a posicionar-se de frente à multidão que desfilava em um fluxo inesgotável. Eu já tinha lhe fornecido informações sobre a agitação social de La Paz e o alto risco de tirar fotos em meio de uma manifestação social dessa cidade, mas ele, assimilando rápido as minhas palavras, conquistou os manifestantes com a sua naturalidade e carisma, pelo que lhe permitiram não somente tirar fotos, senão também filmá-los e até trocar umas ideias com eles.





Camuflado detrás de um ônibus estacionado na beira da rua, eu olhava os milhares de homens e mulheres carregando faixas, letreiros e camisetas com frases e desenhos alusivos ao tema da coca, quando vi, surpreendido, que uma mulher entregava a Victor um saquinho de plástico cheio de folhinhas verdes, enquanto diversas bandas acústicas com bumbos, tambores, instrumentos de vento e violões, passavam tocando músicas características da região andina.





Logo me aproximei dele e fomos presenteados com mais saquinhos, enquanto a manifestação crescia cada vez mais. Depois de olhar pela última vez a inesgotável aglomeração de gente, fomos embora carregados de folhas de coca, as passagens no bolso e a sensação de que a Bolívia é realmente um país muito particular e cheio de encantos e singularidades por descobrir.
    
Luca Espinoza

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Narrativas de Viagem

Alguns Atrativos de Cochabamba


Cochabamba tem muitos atrativos dentro e fora da cidade. Pela escassez de tempo decidimos visitar o Convento de Santa Teresa e o Cristo de La Concórdia, considerado a maior estátua de Cristo Redentor do mundo, supera a do Rio de Janeiro, com 34,20 metros de altura, começou a ser construído em 1987 e foi concluído em 1994.

Cristo de La Concórdia - o maior do mundo

Localizado em uma colina na Serrania de San Pedro, ao lado de uma linda lagoa chamada de Laguna Alalay, o Cristo possibilita uma visão de 360 graus da grande cidade de Cochabamba e das montanhas em seu redor, um excelente programa leve. Aproveitamos também para subir e descer ao Cristo de teleférico, um programa divertido e barato que possibilita praticamente uma vista aérea da região.

Laguna Alalay

Teleférico do Cristo de La Concórdia

O Convento de Santa Teresa, localizado bem no centro histórico de Cochabamba e considerado como uma das joias da arquitetura colonial boliviana, foi construído por um arquiteto jesuíta em 1753 e depois de um terremoto que derrubou grande parte da igreja foi novamente construído e ampliado em 1792. 

Vista da fachada do Convento

O Convento tem o formato e aparência de uma grande fortaleza medieval com muros que chegam a  3 metros de espessura, muitos salões guardam uma importante coleção de obras de arte sacra, principalmente pinturas e imagens de santos.

Vista do pátio do convento


Imagens do interior do Convento


A visita pelos labirintos do Convento é muito interessante, tem lugares bem sombrios que nos remetem a cenas de filmes e ao mesmo tempo mostram como era dura a vida das religiosas que não tinham nenhum contato com o mundo exterior, a não ser nas raras visitas de parentes com quem elas podiam  somente conversar, sem ter qualquer contato físico ou visual com as pessoas.


Imagens do interior do Convento

A visita à parte de cima dos telhados do Convento permite observar muitas técnicas construtivas interessantes e ao mesmo tempo admirar parte da cidade e das montanhas que a cercam, um passeio que vale a pena ser feito.

Telhado do Convento de Santa Teresa

Cochabamba tem 51 atrativos turísticos preparados para a visitação, somente na área urbana, e muitos outros nas redondezas, isso significa que teremos que voltar um dia e conhecer um pouco mais desta pujante cidade boliviana.

Mario Friedlander

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Narrativas de Viagem

De Santa Cruz a Cochabamba


Estamos preparando a viagem para Cochabamba, fomos comprar as passagens do ônibus ou “flota”, como dizem por aqui, saímos do agitado Terminal Bimodal, de onde chegam e partem ônibus e trens em várias direções, inclusive no rumo do Brasil, até Quijarro ou Porto Quijarro, que fica muito próximo a Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Pegamos o ônibus noturno assim chegaremos bem cedo em Cochabamba, que fica a cerca de 400 km de distância de Santa Cruz pela estrada nova de asfalto.

A partida foi bem agitada e um pouco tumultuada, como quase tudo por aqui. Sempre tem muita gente por todo lado e a desorganização e falta de informações claras faz com que o viajante tenha que redobrar sua atenção, inclusive em relação a sua segurança pessoal e de sua bagagem.

Muitos vendedores ambulantes, principalmente de comidas e bebidas se misturam aos passageiros e funcionários das empresas de transporte, facilitando a aquisição de alimentos e atrapalhando o deslocamento das bagagens e passageiros embarcando e em trânsito, mas as coisas fluem desse modo na Bolívia e se você quiser viajar com tranquilidade, segurança e conforto, vá de avião ou não vá.

A viagem foi tranquila, poucas paradas, quase nenhum frio e o ônibus lotado com pessoas dormindo no corredor. Chegamos em Cochabamba ao clarear do dia, assim pudemos ver as milhares de casas que aos poucos ocupam todos as montanhas em redor da vasta cidade.

Cochabamba sempre foi um lugar importante por apresentar imensas planícies férteis em meio a uma extensa região de cordilheiras, esses vales sempre foram usados para a produção de alimentos e Cochabamba pode ser considerada como um dos mais importantes celeiros da Bolívia. A principal atividade econômica continua sendo a agricultura, desenvolvida pelas famílias e comunidades locais, que cultivam centenas de diferentes espécies de valor culinário.

Mulheres vendendo duraznos (pêssegos)

Assim, existe uma predisposição de se ocuparem as encost eas de morros para que se conserve um pouco da planície e também pelo alto valor dos terrenos uma vez que a cidade tem se desenvolvido muito nos últimos anos. O comércio de produtos variados, desde produtos agrícolas e condimentos até eletrônicos, artesanato, vestuário, calçados e todo tipo de coisas, é muito desenvolvido aqui e ajuda a manter a economia acelerada. O Mercado de La Cancha é um mercado público gigante, que funciona nos finais de semana, abrange dezenas de ruas e milhares de pessoas, além de englobar o comércio formal e ambulante e as muitas galerias e shoppings, tudo formando um bloco aparentemente infinito de comerciantes e seus produtos.

Comércio e serviços nas ruas de Cochabamba

La Cancha tem sido apresentado como o principal atrativo turístico da cidade e fomos lá no sábado à tarde para conferir e documentar. Realmente, ficamos surpresos e fascinados, passamos a tarde inteira vasculhando La Cancha e nem sequer conseguimos ver uma parte significativa do mercado, só não o documentamos pois ficamos com receio de chamarmos a atenção mais do que normalmente já fazemos.

Aos olhos dos bolivianos somos gringos, turistas, estrangeiros e sair em meio aquele caos de dezenas de milhares de pessoas, com equipamento fotográfico, não nos pareceu uma ideia segura ou sensata. Mas La Cancha pode realmente ser considerado muito mais que um atrativo turístico: com a extraordinária diversidade de produtos naturais, artesanais e industrializados oferecidos, assim como as possibilidades de degustação culinária e principalmente a diversidade étnica da população local e dos visitantes regionais, foi até agora um dos pontos altos da viagem.

Estamos a cerca de 2.800 metros de altitude em Cochabamba e numa região de encontro de ecossistemas amazônicos e andinos, o clima é bem agradável e não sentimos nenhum efeito nocivo da altitude. A parte histórica da cidade é muito interessante, especialmente a arquitetura colonial espanhola, muitos atrativos históricos, culturais e turísticos estão disponíveis na cidade e em seus arredores.


Vista da Cidade de Cochabamba

Arquitetura espanhola


Viemos aqui para continuar a rota terrestre ao Pacífico e também para visitar um local especial, Inkallajta, “A Morada do Inca” a maior ruína incaica da Bolívia e a segunda maior da América, ficando atrás só de Macchu Pichu, no Peru. Para isso procuramos o Departamento de Turismo e para nossa sorte, tivemos um amistoso e fecundo encontro com Dom José Cerruto – Diretor Departamental de Turismo do Gobierno Autonomo Departamental de Cochabamba.

Ele nos recebeu, ouviu nossas propostas de viagem e nos apresentou uma versão nova das paisagens de Cochabamba, assim como de sua função geopolítica desde o período da dominação incaica. Passamos mais de três horas ouvindo atentamente uma série de dados completamente novos sobre tudo, até sobre a aparentemente consagrada função militar de “Fortalezas” incaicas como Samaipata ou Inkallajta, que na verdade, conforme Cerruto, seriam centros de administração do Império Incaico, visando a consolidar e dinamizar a produção sofisticada de milho e coca, produtos de maior valor que ouro ou qualquer outra coisa e que mantinham o equilíbrio político e fiscal de todo o império.

Também seriam centros de compartilhamento e de reunião de etnias provenientes de todas as diferentes e distantes partes do império incaico, que aqui teriam as condições ecológicas ideais para a exploração de diversos recursos naturais disponíveis como em nenhum outro lugar da América, sem falar na fertilidade e no clima perfeito para o desenvolvimento da agricultura em topografia plana em meio aos Andes, como não existia em nenhuma outra região do antigo império.

Ficamos impressionados com tantas teorias novas e com a capacidade de raciocínio e conhecimento teórico e prático de Dom Jose Cerruto, marcamos uma visita a Inkallajta e fomos aproveitar o tempo para visitar e documentar um pouco do imenso patrimônio de Cochabamba.

Mario Friedlander

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

El Codo de Los Andes

Em 2008 estive em Samaipata e tive a oportunidade de vivenciar uma iniciativa de turismo comunitário, chamada Eco Turismo Eco Andes, onde, com apoio italiano, uma pequena comunidade de agricultores, chamados aqui de campesinos, se organizou para oferecer aos turistas uma caminhada em meio aos vales profundos, cobertos de floresta e que depois subia aos topos das montanhas seguindo trilhas muito antigas, provavelmente milenares.

El Codo de Los Andes - ou 'Cotovelo dos Andes'

A trilha passava por alguns mirantes muito impressionantes até chegar à região da Comunidade Bella Vista de onde se avistam muitas pontas de montanhas em meio a uma paisagem natural deslumbrante, chamada pelo pessoal de Samaipata de “Codo de los Andes” ou o “Cotovelo dos Andes”. Na época fiquei muito emocionado com a experiência, ainda mais ao avistar Condores e ao saber que estas trilhas foram percorridas por Che Guevara e sua tropa na época da guerrilha.

Portanto, ao voltar a Samaipata busquei logo um meio de retornar ao trecho final da caminhada, pois não teríamos tempo de quase todo o dia para refazê-la. Combinamos com o guia Tiburcio Aguilar Llanque da Samaipata Tours e saímos bem cedo do El Pueblito Hotel em direção a comunidade Bella Vista, a cerca de 35km de Samaipata, numa estrada cheia de paisagens muito lindas.

Ao chegarmos às proximidades do Mirante da comunidade, paramos na casa de David Coca Ortiz, um dos líderes da comunidade, para pedir autorização para percorrermos a parte final da trilha, expliquei que tenho interesse em divulgar a experiência deles e fico sabendo que tudo que vivenciei em 2008 foi abandonado, por diversos problemas entre a comunidade e algumas operadoras de turismo e mesmo por dificuldades internas da comunidade.

Assim, mais um produto turístico espetacular se torna indisponível pela simples falta de articulação entre as partes e pela mania latina de dificultar as coisas. Afinal, se a trilha da floresta está arruinada, necessitando de reparos e a comunidade não tem a capacidade de fazer estes reparos, porque simplesmente não liberar a trilha no trecho final que é menor, mais fácil de fazer e muito mais bonito? Uma simples inversão do sentido da trilha iria resolver boa parte das questões e a comunidade Bella Vista, as operadoras de turismo e a associação de guias de Samaipata poderiam oferecer aos muitos turistas interessados a oportunidade de vivenciar uma trilha deslumbrante, de acesso relativamente fácil e com um visual inigualável.

Subida ao Codo de Los Andes

Assim, vamos subindo as montanhas depois de atravessar as pequenas roças da comunidade em busca do ponto mais alto para tirarmos boas fotos. O tempo está meio sem graça e depois de esperarmos por umas duas horas para ver se a luz melhora, resolvo seguir a trilha e descemos parte das montanhas até o local onde, em 2008, ao avistar um casal de condores, pisei numa cobra e descansei na única sombra existente que eram dois pés de Ipê-amarelo-do-cerrado ou os famosos Pára-tudo do Mato Grosso, árvore símbolo de nossa região que vamos encontrar aqui no topo dessas montanhas andinas.

Victor Friedlander fotografando no 'Codo'

Feliz da vida em poder retornar a essa paisagem que tanto me impressionou, ainda mais que estou com meu filho e aprendiz de fotógrafo, procuro pela mesma sombra dos Ipês-amarelos e no colo da mãe natureza, cercados pelos elementos naturais, tomamos um bom lanche, repondo nossa energia para iniciarmos o regresso, subindo as montanhas em direção à comunidade.

Mario Friedländer

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


Santa Cruz a Samaipata

Estamos em Santa Cruz conhecendo melhor essa metrópole, cheia de carros e exposições de arte. Também aproveito o variado comércio local para resolver um problema sério causado por uma renomada loja de equipamentos fotográficos de São Paulo, a Consigo Foto e Som.

Antes da viagem comprei pela internet uma cabeça de tripé apropriada para a realização das filmagens que faremos, me cadastrei, escolhi o produto, paguei imediatamente e fiquei esperando o envio por sedex. Fiquei três dias esperando adiando nossa saída, até que, depois de enviar um email que nunca foi respondido, resolvi usar o velho e bom telefone. Foi assim que descobri que a Consigo não tinha o produto, não me avisou, não respondeu meu email, se eu continuasse esperando a encomenda chegar eu estaria em Cuiabá até agora.

Muito chateado, cancelei a compra e pedi o reembolso do meu dinheiro. Só faltou eles me devolverem os três dias perdidos esperando meu produto chegar, isso eles não me devolveram, mas perderam um bom cliente e vou alertar pelas redes sociais os meus colegas de trabalho, pois comigo a Consigo não vende mais nada pela internet.

Assim, depois de muito procurar, acabei achando um tripé completo com cabeça para vídeo e só me resta arrumar as mochilas e irmos a Samaipata - nosso primeiro destino turístico de verdade na rota para o Pacifico.

Samaipata é uma pequena e antiga cidade localizada a 120 km de Santa Cruz, fica a cerca de 1600m de altitude, com um clima e paisagens exuberantes. Sempre penso na Chapada dos Guimarães quando vou a Samaipata, e na verdade, essa é a melhor comparação a ser feita. Os endinheirados e amantes da natureza bolivianos e estrangeiros que vivem em Santa Cruz, além de muitos outros estrangeiros, estão comprando terras e lotes para a construção de suas casas e chácaras de final de semana. 

Vista da Vila de Samaipata

Os turistas mochileiros e exotéricos também devem, obrigatoriamente, visitar a região que abriga boa parte do Parque Nacional Amboró, um dos mais importantes e belos da America Latina. Há vários atrativos naturais que permitem um intenso contato com a natureza local, onde encontramos além de muitas montanhas e cachoeiras, morros gigantes de arenito vermelho e florestas tropicais, inclusive um espetacular Bosque de Samambaias Gigantes.

A cidadezinha feita em grande parte de casas coloniais de adobe, tem pequenas pousadas e alguns armazéns que vendem produtos naturais de todo o mundo, tudo voltado para os turistas estrangeiros que vem passar temporadas por aqui, curtindo a vida e a natureza.

Não bastasse tudo isso, vamos encontrar nas proximidades de Samaipata uma das jóias raras da arqueologia americana - o “Forte ou Fortaleza de Samaipata” - o maior monólito rochoso esculpido do mundo, com centenas de nichos e monumentos escavados na pedra, muitas ruínas de edificações militares e outras datadas do período pré-incaico e incaico.

Forte Samaipata

O lugar impressiona pela monumentalidade e pelos mistérios que lhe são atribuídos. A bela localização em meio ao alto das montanhas, o cuidado com o qual os bolivianos montaram um Parque Arqueológico e Eco-turístico e também um Museu em seu redor servem como lição à nós brasileiros. Mas voltando um pouco no tempo, de Santa Cruz a Samaipata é possível tomar ônibus, que sai do antigo terminal rodoviário. Mas o transporte mais utilizado são táxis e vans que saem principalmente pela manhã e continuam saindo durante todo o dia. Os interessados vão ao escritório da Expresso Samaipata e ficam na rua esperando algum táxi chegar que levam até 7 passageiros e toda a bagagem. Não sei bem como conseguem, mas esse é o sistema e funciona bem.

Apesar dos riscos, há uma bela estrada que serpenteia o cânion ao longo do rio Piray, que às vezes se mostra muito violento provocando enchentes, destruição e mortes.


Ficamos hospedados no Resort El Pueblito, localizado a 2km acima da vila. É um empreendimento de muito bom gosto onde não existem televisões nos quartos e a internet é muito fraca. Talvez por isso, assim como pela qualidade das acomodações e da culinária, o lugar está sempre cheio de pessoas que querem se desligar um pouco dos agitos cotidianos para entrarem na frequência da natureza.







Hotel El Pueblito



Combinamos de fazermos a documentação do Forte de Samaipata e do Codo de los Andes com o guia de turismo, senhor Tibúrcio Mendez, da Samaipata Tours e imediatamente alugamos um carro e fomos ao Parque Arqueológico e Ecoturístico, situado a cerca de 9km da vila de Samaipata por uma íngreme estradinha com um visual exuberante que leva ao topo das montanhas e ao Fuerte de Samaipata, considerado como um centro cerimonial e administrativo pré-hispânico e que foi transformado em Patrimônio Cultural da Humanidade.

Vista Lateral do Forte Samaipata


As ruínas são consideradas como o terceiro maior conjunto de ruínas incaicas da américa, ficando atrás de Machu Picchu no Peru e Incallajta que fica na região de Cochabamba na Bolívia. Passamos todo o dia debaixo de um sol muito forte, percorrendo uma parte significativa das ruinas já escavadas e preparadas pelos arqueólogos bolivianos para receber visitação.






Ao redor existem muitas outras ruínas cobertas pela vegetação de floresta primária e secundária, um tesouro oculto e que deve continuar assim, pois seriam necessários muitos investimentos em projetos de exploração, pesquisa, escavações e restaurações para tornar público esse grande patrimônio arqueológico que provavelmente rivalizaria com a própria Machu Picchu.




Muitas horas depois, torrados pelo sol, cansados com as subidas e descidas e com o esforço em fotografar e filmar o máximo possível, nós percebemos que não haveria mais tempo de ir ao Codo de los Andes ou ao Bosque das Samambaias Gigantes neste mesmo dia. Visitamos a pequena vila que agora cresce a olhos vistos, impulsionada pelo turismo e especulação imobiliária.

Descobrimos que além de muitas agências de turismo, ecoturismo e pousadas, Samaipata tem neste período uma agitada noite, impulsionada por turistas e mochileiros de todas as partes do mundo.

Mario Friedlander

domingo, 6 de janeiro de 2013

Narrativas da Viagem


CUIABA  A SANTA CRUZ DE LA SIERRA


Ir de Cuiabá, o centro geodésico da América do Sul, a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, não é tarefa das mais simples ou agradáveis. Apesar de muito falada, discutida e propagandeada, a rota terrestre legal que teoricamente liga as duas capitais entre si, pode ser tudo, menos uma rota turística, na verdade continua sendo uma rota de fuga, tráfico ou contrabando, onde a precariedade, a desinformação e o desinteresse predominam absolutos.

E olhe que já fiz essa rota no mínimo uma dúzia de vezes ao longo dos últimos 30 anos! Proponho-me a descrever a única rota terrestre legalizada que une o Mato Grosso a República da Bolívia, resumindo a melhor maneira de fazer essa cansativa e às vezes arriscada jornada.

De Cuiabá necessariamente você deve ir a Cáceres, pode ser por alguns dos ônibus diários que fazem esse trecho ou com vans que fazem o mesmo percurso, pessoalmente, prefiro o ônibus, considero mais seguro e tem horário fixo. As vans costumam ter horário mais ou menos fixo, mas saem buscando os passageiros nos locais combinados 2 horas antes da saída, isso significa que você tem que estar de prontidão com duas horas de antecedência. A vantagem da van é que ela busca e deixa no endereço combinado, fora isso, ela custa mais caro e demora mais que os ônibus.

Chegando em Cáceres , graças ao Mercosul, você não precisa mais ficar calculando o horário para conseguir ir no Posto da Polícia Federal para obter o papel de saída do Brasil, a não ser que você viaje com menores de idade, aí então, você deve escolher o horário de van ou ônibus que chegue ainda em tempo de você ir lá e conseguir seu documento, isso feito, você provavelmente vai ter que dormir em Cáceres para poder pegar, já no dia seguinte, a van que levará até San Matias, a primeira cidade boliviana depois da fronteira.
A van  mais garantida sai da Rodoviária antiga de Cáceres as 4:30 hs da manhã, tem outras que saem e chegam mais tarde, podendo dificultar ou mesmo impossibilitar sua ida rápida a Santa Cruz. Mas de qualquer modo, ao chegar na Corixa, um lugarejo na chamada terra de ninguém, entre a linha de fronteira dos dois países, você vai passar por uma ou mais barreiras do Gefron( Grupamento Especial de Policiamento da Fronteira) e pelas instalações do exército brasileiro e da receita Federal, que surgem como miragens na  pantaneira paisagem local.

Chegando na Corixa, a van que ia até San Matias, nos deixa por lá mesmo, na mão de taxistas bolivianos que estão sempre discutindo com os policiais brasileiros,  apesar da precariedade dos veículos, os taxistas costumam ser solícitos e cobram barato por uma corrida de 8 km na esburacada estradinha de terra.

Passada a singela barreira do exército boliviano, logo você chega em San Matias e terá que reajustar seu relógio em uma hora a menos e decidir se vai ao terminal de buses comprar ou esperar abrir os guichês das duas empresas bolivianas que fazem o percurso até Santa Cruz ou se você já fica no caminho em frente ao posto da Migracion Boliviana que abre às 7:30 hs e fará sua papeleta de entrada, sem a qual você terá muitos problemas durante a viagem. Resolver esse pequeno dilema nem sempre é fácil. Se você for direto comprar as passagens e depois ir a Migracion isso vai significar que terá que tomar táxi 3 vezes antes de embarcar no ônibus e eventualmente enfrentará uma pequena fila na Migracion; por outro lado, se você for direto na Migracion e ficar esperando entre uma a duas horas até o posto abrir, você com certeza será um dos primeiros da fila e depois de conseguir sua entrada na Bolívia, corra de táxi para o terminal de buses e compre logo seu boleto, às vezes você  chega lá e eles já acabaram e você  terá que esperar até o outro dia para ir a Santa Cruz... passar o dia e a noite em San Matias é um programa que não desejo aos meus amigos nem aos inimigos.

Pois é, cansou de ler a respeito, imagina que a dita viagem, jornada, travessia, aventura, encrenca, nem sequer começou!

Agora, com o boleto na mão, embarque no ônibus boliviano, que muitas vezes é até bonito por fora, mas estragado por dentro, então, boa viagem. Você tem pela frente 890 km de estradas muito ruins, motoristas ora simpáticos e ora truculentos que não hesitarão em abandonar você, se por acaso se atrasar numa das paradas em busca de algum banheiro, coisa muito rara de encontrar, e se o ônibus não quebrar como comumente acontece, você vai ter medo da velocidade com que eles andam em veículos e estradas tão precárias. Mas se tudo correr bem, você até vai conseguir almoçar um arroz com feijão e bife suculento  em San Vicente, depois mais uma parada em San Ignácio e uma pequena parada em San Javier, onde o motorista, nesta nossa viagem, queria deixar para trás duas turistas brasileiras que foram procurar um banheiro.

Finalmente, por volta da meia noite você chegará ao Terminal Bimodal em Santa Cruz, terá que escolher um taxi e sair rápido em busca de um dos muitos hotéis e alojamentos existentes nas proximidades, mas fique esperto que o lugar é meio perigoso.
E assim, depois de uma longa e cansativa viagem, você estará a cerca de 1200 km de Cuiabá e ficará pensando se a volta será como a ida ou pior, ou se você, ao invés de pegar um ônibus para San Matias, pega logo o trem que vai até Corumbá, no Mato Grosso do Sul, e volta mais tranquilo e seguro.

Enfim, não é tarefa simples ou agradável chegar em Santa Cruz de La Sierra saindo de Cuiabá por via terrestre em transporte coletivo. Com carro próprio isso fica um pouco mais fácil, só não esqueça de levar a documentação do veículo para fazer o salvo-conduto em San Matias, alguns brasileiros entram sem ele e vão no máximo até San Ignácio, a partir daí se você for parado, e você será parado, e não tiver o salvo conduto, estará em apuros e mesmo pagando propina corre o risco de ter seu carro apreendido, só vai depender de qual tipo de polícia boliviana fizer a abordagem.

Em relação à documentação pessoal exigida, essa é a parte mais simples, você precisa de Carteira de Identidade (RG) atualizada, e o certificado Internacional de Vacinação contra a Febre Amarela, que pode ser solicitado com a Anvisa, você pode fazer o agendamento pela internet e depois ir ao Posto da Anvisa dentro do Aeroporto em Várzea Grande, mas antes tem que ir a algum Posto de Saúde e tomar a vacina com no mínimo 10 dias de antecedência. Se  você tiver passaporte, pode viajar com ele também.   No caso de estar viajando com filhos ou menores, você precisa das  autorizações e dos documentos pessoais deles. Uma dica é sempre levar fotocópias autenticadas dos documentos, em caso de roubo ou perda dos originais, isso vai ajudar muito.

Lembre-se que vai precisar trocar seu dinheiro brasileiro por dólares americanos e por Pesos Bolivianos, os dólares você pode trocar em casas de câmbio ou mesmo no Banco do Brasil. Nesta viagem o valor da compra do dólar estava mais vantajoso no Banco do Brasil, por incrível que isso possa parecer, além do mais, durante o final do ano, as casas de câmbio ficaram sem nenhum dólar, tudo foi vendido para um turbilhão de cuiabanos que foram viajar ao exterior. O Peso Boliviano ou simplesmente Boliviano pode ser trocado em San Matias ao valor de Bs 3,00 para cada real, em Santa Cruz conseguimos ao valor de Bs 3,14. Se quiser trocar em Santa Cruz tem muitas casas de câmbio em redor da praça principal da cidade, conseguimos trocar nossos reais pelo mesmo valor que estava em Cuiabá, R$ 2,20 para cada dólar.

Santa Cruz é uma metrópole bem agitada, com trânsito intenso e vários atrativos culturais e turísticos bem interessantes, mas a Bolívia esta crescendo muito e já não é tão barata como dizem, principalmente em Santa Cruz. O custo de vida aqui é muito alto e você vai gastar quase o mesmo que gastaria no Brasil, fique o tempo necessário para conhecer o básico e siga em frente, quanto mais longe da fronteira e da influência do Brasil, melhor. A Bolívia é uma nação espetacular e com preços bem atrativos, portanto, pé na estrada.

Santa Cruz de La Sierra 04/01/2013
Mario Friedlander

sábado, 5 de janeiro de 2013


Casa da Cultura em Santa Cruz de la Sierra-BO



Fotos: Mario Friedlander
Vista do Terminal de Buses de San Matias


Foto: Mario Friedlander


Artesanato cruceño em madeira
Foto: Victor Friedlander

Torre da Matriz de Santa Cruz

Foto: Victor Friedlander

Chegada à Bolívia

Protesto contra a construção de estrada na área indígena de Tipnis, realizado na praça principal de Santa Cruz



Fotos: Victor Friedlander

Comitê de apoio a causa indígena de Tipnis


Fotos: Mario Friedlander

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013


 DE MATO GROSSO AO PACÍFICO

Narrativas de viagem

Janeiro-2013

Depois de muito planejamento e preparativos estamos quase prontos para sairmos em mais esta viagem em formato de expedição, com o objetivo principal de realizar a documentação detalhada da rota terrestre que pode nos levar de Cuiabá, o Centro Geodésico da América do Sul, à beira do Oceano Pacífico, provavelmente junto à cidade costeira de Aríca, no extremo norte do Chile.
Decidimos finalmente qual rota trilhar, as opções eram variadas, cada uma com seus prós e contras: acabamos escolhendo a mais curta e direta e também a pior, de Cuiabá a Cáceres e de lá a San Matias na Bolívia a estrada é boa. A partir de San Matias as condições da estrada de terra variam conforme o volume das chuvas e o esforço realizado para os reparos necessários nas pontes e nas áreas de pantanal. Seguiremos a Santa Cruz de La Sierra, a mais próspera e efervescente cidade da República da Bolívia - com o dobro da população de Cuiabá e com cerca de 150 anos a mais de idade, é um bom lugar para ficarmos e documentar diversos atrativos existentes em suas redondezas.
Complementando nossos objetivos na viagem, pretendemos documentar os principais atrativos turísticos, ou seja, os locais com relevante valor histórico, cultural e natural que existem ao longo dessa rota. Temos poucos dias para registrar muitos atrativos que nossas pesquisas e vivências pessoais já indicam como locais fundamentais, isso significa que teremos que ser mais rigorosos e eleger os melhores dos melhores, tarefa árdua e talvez impossível de ser executada com precisão, mas vamos à luta e com certeza deixaremos muita coisa a ser mostrada por outros aventureiros.
Nossa expedição conta com parceiros e apoiadores, sem os quais não chegaríamos nem ao Rio Paraguai. Nosso apoiador e parceiro principal é a Primeira Secretaria da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, liderada pelo Deputado Estadual Mauro Savi e sua equipe de gabinete, todos se mobilizaram para atender as diversas necessidades para a realização da viagem; contamos também com o apoio da Secretaria de Comunicação (Secom) da ALMT e da TV Assembleia, com a qual temos o compromisso de captar material de qualidade para a produção e veiculação de um ou mais documentários.
Temos ainda parceria com o Projeto Paralelo 15 e a Revista Afromundo.
 Nossa equipe de campo é composta pelo escritor Chileno Luca Spinoza, atualmente radicado na Bolívia. Além de escritor, músico, jornalista, artesão e grande viajante, já percorreu todos os caminhos pelos Andes da América, sendo parceiro de viagens de longa data,  Luca tem se desdobrado na obtenção de informações e contatos com os Afrolatinos. Outro membro da equipe é o jovem fotógrafo Victor Friedlander, meu filho, que já participou de diversas viagens pela região, mas agora vai passar pelo teste definitivo, enfrentando uma jornada mais longa e muitas responsabilidades com relação aos produtos finais da viagem e por mim, Mario Friedlander, fotógrafo documentarista e editor-chefe da Revista Afromundo, com mais de três décadas de viagens e envolvimento em expedições, projetos ambientais e culturais; além disso, atuo como fotógrafo no gabinete da Primeira Secretaria da ALMT e nas horas vagas coordeno o Projeto Paralelo 15. Nossa equipe de apoio é composta por Jackeline Silva, do IMUNE-MT Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso, pela Alda Quadros do Couto, escritora  que é parceira e revisora na Revista Afromundo, e principalmente, pela jornalista Marcia Raquel Oliveira e o Publicitário Jean Carlo Toya, também ligados à Primeira Secretaria da ALMT e a Revista Afromundo. Estes colaboradores estarão de prontidão em Cuiabá, participando principalmente da finalização e da difusão das informações produzidas em campo e eventualmente nos socorrendo em algum problema mais sério.
Outro objetivo dessa viagem é o de coletarmos informações sobre os Afrolatinos ao longo da rota e de estabelecermos contato com algumas comunidades de Afrochilenos através da organização Comparsa Oro Verde, liderada pela Sra. Carolina Cortés Silva na região de Aríca no Chile.
Faremos a viagem por via terrestre com o tipo de transporte que for possível, ônibus, van, trem, caminhão, seja como for, e vamos narrar as dificuldades e facilidades ao longo do caminho, assim como os preparativos necessários ao bom andamento da viagem.
 Por enquanto é isso, estamos prontos para viajar, mas como estamos no feriado de final do ano e isso nos trará diversos contratempos com transporte e principalmente com o escritório da Migracion em San Matias, que vai carimbar nossos passaportes com a entrada na Bolívia, vamos esperar o ano terminar de acabar e começar de vez e vamos embora, afinal de contas, muitas coisas nos esperam.

Mario Friedlander
31 de dezembro de 2012