sexta-feira, 15 de abril de 2011

Diário de Bordo - 4 e 5 de abril de 2011

Acordo bem cedo em Vila Bela da Santíssima Trindade, tomo minha última dose de guaraná ralado, não é um guaraná qualquer, é o tradicional que os Cuiabanos tomam todo dia, misturado ao Guaranazinho Pantaneiro que busquei em Poconé antes da viagem. Meu vidro de Guaraná é minha ampulheta do tempo certo da viagem, acabou no 41º dia da expedição e a viagem acabou.
 

 Guaranazinho Pantaneiro

Chegamos ontem a noite, muito cansados depois de enfrentar o último e pior trecho da viagem. Saímos de San Ignácio a tarde em direção a Vila Bela por uma estrada considerada irregular pelos Bolivianos, pelo menos é o que nos disseram na Aduana Nacional da Bolívia, a estrada de terra está boa, não tem nenhuma placa de sinalização, mas como já fiz esta mesma estrada muitas vezes em outras viagens, chegamos a tranca da Polícia Boliviana de "Buena Hora" com tranquilidade, estamos a 20 km da Fronteira real e a influência brasileira aparece bem tênue por aqui, a minúscula vila de "Buena Hora" se transformou na vila de "Boi na Hora", uma corrupção clara do Castelhano original interpretado pelos peões brasileiros da fronteira.
 

Passamos pelo Posto Militar Boliviano de Marfil sem sobressaltos nem propinas, entramos na faixa de 5 km entre os dois países, terra de ninguém, e aportamos na Barreira Sanitária Marfil do lado brasileiro, onde somos muito bem tratados pela equipe do Gefron, Polícia Militar e Indea que nos dão as boas vindas de volta a terrinha e revistam toda nossa bagagem e carro em busca de produtos de origem animal ou vegetal e "otras cositas más". Aproveitamos a ocasião e disparamos nosso português entalado na garganta louco pra sair.
 

 Barreira Sanitária Marfil, Vila Bela

Continuamos a estrada e passamos pelo posto Militar de Palmarito e daí seguimos 70 km de estrada super esburacada, sem nenhuma placa de sinalização e ainda por cima debaixo de uma forte chuva até chegarmos a noite em Vila Bela.
 

Somos recebidos pela Sandra do Hotel Cascata, nossa parceira em Vila Bela que faz de tudo para estarmos confortáveis e alimentados.
 

Sandra e sobrinha, Hotel Cascata Vila Bela

Depois de tomar meu guaraná, saímos em busca dos amigos e de um lugar para fazermos uma foto do carro da expedição em Vila Bela. A beira do rio está muito inundada e um muro de arrimo meio afogado toma a linha da praia morena, estão construindo um terminal turístico na beira do Guaporé, a obra está interrompida pelo volume de chuvas e pelo "repiquete de São José", ou seja, quando ao final das chuvas o volume de água sobe abruptamente pelas chuvas mandadas por São José. Com a beira do rio tomada por águas e obras,  buscamos outro cenário para nossa foto, o Baldrame de Santo Antonio dos Militares, uma obra imponente dos Portugueses feita de Pedra Canga está tomado pelo mato e por barcos, canoas e lixo, descartamos também este cenário, vamos em busca da ruína da antiga Matriz de Mato Grosso e o que vemos nos desanima, a ruína protegida pela cobertura metálica vermelha de posto de gasolina está seca, desbotada, com capim alto e com o projeto original inconcluso, sem sinalização nem plano e estrutura adequada para o uso público, descartamos imediatamente e vamos atrás do Antigo Palácio dos Capitães Generaes, outra imponente edificação, primeira sede do Governo de Mato Grosso e atual Museu Histórico e Arqueológico, encontramos o Museu interditado pois o prédio, histórico, tombado pelo IPHAN e pelo Estado de Mato Grosso está com dois pontos graves de colapso da estrutura e isso já faz mais de ano, fico triste de ver tantas novas obras sendo feitas em Vila Bela, inclusive o Congódromo, bem ao lado do Museu e o Museu caindo.

Desistimos das fotos, resolvemos o que temos a resolver e caímos na estrada em nossa jornada de término de expedição, são mais 520 km de estrada em ótimas condições, exceto num trecho próximo a Cuiabá.
 

 O final da viagem

Agora é chegar, cuidar da vida, pagar as contas em atraso, atualizar o blog e preparar nossa segunda e terceira viagem, em julho na Vila Bela e agosto de volta a Bolívia.


Texto e fotos: Mario Friedlander