segunda-feira, 21 de março de 2011

Diário de Bordo - 14 de março de 2011

Começamos o dia caminhando pela área do Hotel La Finca que fica aos pés do Monte Uchumachi que tem 2548 m de altura e é considerado sagrado pela população local. Tudo muito exuberante e plantado com frutas como Laranjas, Limas, Café, Peras, Mangas e Nésperas, também flores, muitas flores de todas as cores. Visitamos o sistema de coleta de água que tem centenas de metros de regos d'água e Juan, o proprietário, me leva a um pequeno lago que ele fez para a criação de peixes, a comunidade local se reuniu e abriu o lago pois como a montanha é sagrada o lago dava azar.
 

Monte Uchumachi
 
Depois do almoço saímos para Coroico e Tocanã, a comunidade onde Edgar Gemio nasceu e cresceu, e onde vivem seus pais. A estrada até lá é bastante acidentada e apesar de Tocana estar em frente a Coroico, fica no outro lado do vale e temos que cruzar umas cinco pontes grandes e várias estradinhas para chegar lá.
 

Tocanã
 
Tocanã

Tocanã

A primeira coisa que encontramos na subida do morro em Tocana é o Centro Cultural recém construído com uma arquitetura meio africana meio boliviana cercada por alambrados, em frente ao lado oposto da estrada na ponta da montanha, vários chalés modernos para alojar turistas, tudo fechado, sem móveis e sem uso. Acima do centro Cultural, as primeiras casas de moradores são de Desiderio Vasquez, diretor do Centro Cultural e ao seu lado a casa de Jose Luis Delgado, o "Pulga", antropólogo que ao estudar o povo Afro de Tocana acabou se mudando para cá e se tornou um deles.
 

 Desiderio Vasquez

Pulga

Conversamos animadamente com eles e aos poucos os vários turistas argentinos, hóspedes de Pulga, nos cercam e o batuque tem início. Falamos sobre musica e relações entre os Afro e a Bolívia em geral.

Também subimos até o núcleo principal de Tocana que deve ter no total cerca de 50 casas e procuramos pelo pai de Edgar, Vicente Gemio. A comunidade está vazia, todos trabalham nas plantações de coca, somente algumas crianças e velhos ficam na comunidade.

Voltamos a casa de Pulga e encontramos duas argentinas elaborando um mapa detalhado de todas as ocupações, ficamos surpresos e entramos na conversa, Célia Iudica e  María Parolin, bíologas da UBA - Faculdad de Filosofia y Letras de Buenos Aires estão desenvolvendo um projeto chamado "Estudio Antropogenético de la Poblacion de Tocana, Bolívia" que pretende determinar, através da análise de informações históricas e de amostras de DNA da comunidade, a origem dos Afrobolivianos de Tocana. Ficamos mutuamente interessados um pelo projeto do outro e gostaríamos de acompanhá-las na reunião que iam ter à noitinha com toda a comunidade para confirmar as autorizações de coleta de amostras bucais e enfim partirem para as análises laboratoriais na Argentina. Mas como a reunião seria somente depois que todos retornassem de seus trabalhos nas plantações de coca, ficaria muito tarde para irmos enfrentar a estrada para Coroico, então decidimos voltar logo enquanto tínhamos um pouco de luz do final do dia.
 

Projeto Argentinas 

Chegamos em Coroico a noite e a confusão do trânsito parece indomável, apesar de pequena, Coroico tem muitos caminhões, ônibus, vans, carros e ambulantes para todos os lados. As ruas são de pedra e muito estreitas sem regras claras de trânsito, o que transforma o pequeno centro da cidade num caos a determinadas horas do dia e da noite.

Conhecemos a praça central, que além de diversas estátuas de figuras históricas e algumas obras de arte, tem em seus canteiros uma plantação de coca, obra do nosso recém amigo Desiderio Vasquez de Tocana.

Seguimos mais sete quilômetros de estradas complicadas até o Hotel La Finca e aí ficamos desfrutando nossa noite.



Hotel La Finca

Hotel La Finca

Texto e fotos: Mario Friedlander

Diário de Bordo - 13 de março de 2011

"Domingo de Tentaciones", saímos cedo de La Paz rumo a região norte dos Yungas, mais precisamente Coroico a 100 km de La Paz por uma estrada de asfalto que sobe até quase 5 mil metros de paisagens espetaculares, com grande montanhas e vales profundos, nevados, e poucas casas e vilas.

Nesta época de chuvas, despencam centenas de finas cachoeiras do alto das montanhas e toda a estrada é margeada de pequenas e vívidas flores amarelas e muito lixo jogado dos carros e ônibus, apesar disso, a exuberância da paisagem é tamanha que nosso olhar acaba deletando o lixo e as muitas linhas de energia que atravessam os vales empobrecendo um pouco o visual.
 

Muitas vans carregadas de turistas e bicicletas se encaminham até La Cumbre e de lá os grupos partem liderados por guias locais numa descida vertiginosa em velocidade e visual rumo a "Estrada da Morte" ou a estrada antiga que leva a Coroico.

Por volta de metade do caminho, começamos a descer muito e o clima e a vegetação começam a mudar, aos poucos a floresta começa a dominar as montanhas e o calor a perturbar nossa tranquilidade.
 

Estamos nos Yungas, região tropical de altitude com muita umidade e vegetação exuberante, onde o café, as laranjas e muitas outras frutas e principalmente a coca crescem como em nenhuma outra parte da Bolívia.
 

Paramos num mirante de onde se avista Coroico pendurada no alto de uma grande montanha coberta de floresta e de pequenas plantações e vemos a famosa "estrada da morte", hoje utilizada quase que exclusivamente por moradores locais e para atividades de turismo, principalmente para descida de bike.

Coroico

Bikers na estrada La Paz à Coroico

Nossa equipe conta com dois parceiros de La Paz, a Giovanna Gonzales que além de arquiteta e professora, trabalha em projetos de manejo e proteção de bacias hidrográficas através da Fundação EcosVida Bolívia e o Edgar Gemio, jovem Afroboliviano, que aos 25 anos demonstra uma maturidade e articulação que nunca encontrei em lideranças pelo Brasil. Edgar é nossa senha de entrada segura nas comunidades afrobolivianas dos Yungas, ele é natural de Tocana, localizada nas proximidades de Coroico e como militante ativo do movimento afro, conhece todos os caminhos e todas as cabeças da área e de La Paz.
 

Equipe Projeto Paralelo 15

Equipe Projeto Paralelo 15

Edgar integrou-se ao nosso projeto com entusiasmo e dedicação e nos leva direto a Mururata, outra pequena comunidade onde vivem várias famílias de Afrobolivianos e entre elas o Rei Afroboliviano Julio Pinedo Pinedo e sua esposa Angelica Larrea de Pinedo.
 

Mururata

Chegamos a Mururata pela hora do almoço e esperamos sob um calor sufocante, quase cuiabano, o Rei Afroboliviano nos atender.
Após uma breve introdução feita pelo Edgar, o Rei e sua esposa nos recebem respeitosamente e conhecem detalhes de nosso projeto, aos poucos vamos estabelecendo um contato mais informal e confiante e após fazermos algumas fotos, marcamos outro dia para realizarmos uma entrevista e produzirmos a foto oficial do único Rei da América Latina.
 

 Rei Afroboliviano Julio Pinedo

Resolução considerando o Rei Afroboliviano Julio Pinedo

 Angelica de Larrea Pinedo

 Equipe e o Rei com sua esposa

Saímos em direção a outra comunidade Afroboliviana e paramos em Yarisa onde o pessoal de Chuchipja dança a Saya Afroboliviana, uma dança que atualmente define a identidade dos Afro na Bolívia.
 

Encontramos muitas pessoas que contatamos em Oruro e que não levaram a sério nosso compromisso de chegar a suas comunidades, isso tornou a recepção mais calorosa e informal e pudemos acompanhar parte da festa do "Domingo de Tentaciones" ou seja, o encerramento oficial de Carnaval em toda a Bolívia.
 

Saya Afroboliviana em Yarisa

Saya Afroboliviana em Yarisa

Yarisa

Apesar da chuva que caiu forte e causou muita preocupação em relação ao estado das precárias e perigosas estradas nos Yungas, nosso domingo foi muito produtivo e o contato com estas comunidades foi muito amistoso.
 

Em função das chuvas, tivemos que sair logo e ir finalmente a Coroico, uma cidade de médio porte, considerada o primeiro município turístico da Bolívia.
 

Percorremos as apertadas e escarpadas estradas até nos alojarmos no Hotel La Finca, situado a 7 km da cidade e que será nossa base nesta viagem.
 

Hotel La Finca

Assim terminou nosso 17º dia de jornada pela Bolívia em busca dos Afrobolivianos.


Texto e fotos: Mario Friedlander

Matéria publicada na Revista Sina


Paralelo 15 - Em busca dos Afrobolivianos



13 de março de 2011 - "Domingo de Tentaciones", saímos cedo de La Paz rumo a região norte dos Yungas, mais precisamente Coroico a 100 km de La Paz por uma estrada de asfalto que sobe até quase 5 mil metros de paisagens espetaculares, com grande montanhas e vales profundos, nevados, e poucas casas e vilas.

Nesta época de chuvas, despencam centenas de finas cachoeiras do alto das montanhas e toda a estrada é margeada de pequenas e vívidas flores amarelas e muito lixo jogado dos carros e ônibus, apesar disso, a exuberância da paisagem é tamanha que nosso olhar acaba deletando o lixo e as muitas linhas de energia que atravessam os vales empobrecendo um pouco o visual.

Muitas vans carregadas de turistas e bicicletas se encaminham até La Cumbre e de lá os grupos partem liderados por guias locais numa descida vertiginosa em velocidade e visual rumo a "Estrada da Morte" ou a estrada antiga que leva a Coroico.

Por volta de metade do caminho, começamos a descer muito e o clima e a vegetação começam a mudar, aos poucos a floresta começa a dominar as montanhas e o calor a perturbar nossa tranquilidade.

Estamos nos Yungas, região tropical de altitude com muita umidade e vegetação exuberante, onde o café, as laranjas e muitas outras frutas e principalmente a coca crescem como em nenhuma outra parte da Bolívia.

Paramos num mirante de onde se avista Coroico pendurada no alto de uma grande montanha coberta de floresta e de pequenas plantações e vemos a famosa "estrada da morte", hoje utilizada quase que exclusivamente por moradores locais e para atividades de turismo, principalmente para descida de bike.



Nossa equipe conta com dois parceiros de La Paz, a Giovanna Gonzales que além de arquiteta e professora, trabalha em projetos de manejo e proteção de bacias hidrográficas através da Fundação EcosVida Bolívia e o Edgar Gemio, jovem Afroboliviano, que aos 25 anos demonstra uma maturidade e articulação que nunca encontrei em lideranças pelo Brasil. Edgar é nossa senha de entrada segura nas comunidades afrobolivianas dos Yungas, ele é natural de Tocana, localizada nas proximidades de Coroico e como militante ativo do movimento afro, conhece todos os caminhos e todas as cabeças da área e de La Paz.

Chegamos a Mururata pela hora do almoço e esperamos sob um calor sufocante, quase cuiabano, o Rei Afroboliviano nos atender.
Após uma breve introdução feita pelo Edgar, o Rei e sua esposa nos recebem respeitosamente e conhecem detalhes de nosso projeto, aos poucos vamos estabelecendo um contato mais informal e confiante e após fazermos algumas fotos, marcamos outro dia para realizarmos uma entrevista e produzirmos a foto oficial do único Rei da América Latina.

Saímos em direção a outra comunidade Afroboliviana e paramos em Yarisa onde o pessoal de Chuchipja dança a Saya Afroboliviana, uma dança que atualmente define a identidade dos Afro na Bolívia.

Encontramos muitas pessoas que contatamos em Oruro e que não levaram a sério nosso compromisso de chegar a suas comunidades, isso tornou a recepção mais calorosa e informal e pudemos acompanhar parte da festa do "Domingo de Tentaciones" ou seja, o encerramento oficial de Carnaval em toda a Bolívia.


Apesar da chuva que caiu forte e causou muita preocupação em relação ao estado das precárias e perigosas estradas nos Yungas, nosso domingo foi muito produtivo e o contato com estas comunidades foi muito amistoso.

Em função das chuvas, tivemos que sair logo e ir finalmente a Coroico, uma cidade de médio porte, considerada o primeiro município turístico da Bolívia.

Percorremos as apertadas e escarpadas estradas até nos alojarmos no Hotel La Finca, situado a 7 km da cidade e que será nossa base nesta viagem.

Assim terminou nosso 17º dia de jornada pela Bolívia em busca dos Afrobolivianos.

Publicada: Seg, 21 de Março de 2011 16:13

Texto e Fotos: Mário Friedlander
Fonte: http://www.revistasina.com.br/portal/cultura/item/214-13-de-mar%C3%A7o-de-2011-em-busca-dos-afrobolivianos