sábado, 5 de março de 2011

Diário de Bordo - 4 e 5 de março de 2011

Escrevo pelo dia de ontem e hoje, pois desde o final da tarde de ontem, tanto eu quanto o Hélio fomos derrubados pelo "Soroche" ou mal das alturas e ficamos indispostos sem condições de escrever ou sair para fotografar a noite.

Passamos o dia de ontem fazendo gestões para conseguirmos autorização e credenciais para fotografar, filmar e circular livremente pelo local onde é realizado o Carnaval de Oruro.
Conseguimos nos reunir com a equipe da Secretaria de Cultura e depois de explicar os objetivos do projeto fomos contemplados com a credencial desde que deixemos uma coleção de boas imagens do Carnaval para a Secretaria, para ser usado com fins de divulgação institucional com todos os direitos autorais respeitados, segundo o Secretario de Cultura.
 

Tarefa cumprida, nós tratamos de procurar contato com algum grupo Afroboliviano e de se organizar para o agitado carnaval que se aproximava.
 

Como no final da tarde ficamos muito indispostos pela altitude e também pelo acúmulo de cansaço, falta de alimentação adequada e stress de uma semana de viagem enfrentando desafios todos os dias, nosso dia terminou na cama, sem grandes novidades.
 

Sábado começou com os grupos culturais se apresentando desde as cinco da manhã, fomos acompanhar os desfiles para fotografar e ver como era o movimento. A festa é bem organizada, tem bastante segurança da polícia que a toda hora verifica as credencias e retira quem não as tem. Arquibancadas cercam a avenida e os primeiros grupos têm pouco público.
 

Carnaval de Oruro

As apresentações são muito motivadas e a música e os trajes e adereços são muito criativos e exóticos para nós, a mim soa como algo totalmente asiático ou chinês, máscaras de monstros de todos os tipos: dragões, caveiras, bruxas e diabos, muitos diabos de todas as cores.
 

Carnaval de Oruro

Carnaval de Oruro

Os grupos se apresentam um após o outro com intervalo de poucos minutos, aos poucos as arquibancadas se enchem de famílias, grupos de jovens, turistas e todo tipo de gente, ao redor os ambulantes ocupam todos os espaços disponíveis e a agitação começa a tomar conta de tudo.
 

Carnaval de Oruro

Gastamos todos nossos cartões de memória antes do horário de almoço e quando uma chuva fina começa a cair resolvemos bater em retirada para descarregar as fotos e se alimentar adequadamente.
 

A tarde voltamos ao Carnaval, que ao contrário de nós não teve nenhuma pausa, continuou por todo o tempo, inclusive com chuva. Ao chegar, percebemos que a agitação dominou tudo ao redor e dentro da avenida, arquibancadas e os grupos. A guerra de água e de spray de espuma tomou conta e todos são alvos, principalmente as crianças e os estrangeiros, muito gente está bebendo muito e o ritmo de apresentação dos grupos é muito mais rápido.
 

Carnaval de Oruro

Carnaval de Oruro

Fotografamos tudo que pudemos, sempre se esquivando de bexigas de água e dos jatos de spray, os policiais estão mais impacientes e o movimento dentro da avenida começa a atrapalhar a apresentação dos grupos e a produção de boas imagens, em resumo, tudo começa a virar uma grande bagunça, resolvemos bater em retirada novamente, mas antes encontramos um grupo de Afrobolivianos chamado Saya Afroboliviana Chijchipa, fazemos um amistoso contato e percebemos que os bolivianos adoram o ritmo afro.
 

A noite retornamos ao carnaval para documentar uma apresentação de outro grupo de Afrobolivianos chamado Mocusabol, mas encontramos o ambiente na avenida muito deteriorado, bêbados por toda parte, pouca polícia para dar segurança, uma multidão se apertando e invadindo a avenida das apresentações, os grupos se apresentando em correrias frenéticas, a iluminação muito ruim e a guerra de água e spray de espuma cada vez mais generalizada e violenta.
 

Tentamos contato com a Mocusabol e sua apresentação seria muito tarde, resolvemos abortar a documentação, não havia a mínima condição de produzir boas fotos naquele ambiente, os grupos culturais eram espetaculares, mas a bagunça tinha se tornado um caos pelo menos aos meus olhos e não quis arriscar mais algumas horas de desconforto e tensão para fazer as fotos.
Vamos procurá-los fora do Carnaval de Oruro, em sua terra natal, longe desta agitação maluca.
 

Assim terminamos nosso nono dia de jornada, mas o Luca ficou zangado e saiu agora as 23:00 para se reunir com o grupo de Afrobolivianos e estreitar os laços para nosso futuro contato, ainda bem que temos bons parceiros, pois desta vez nem eu nem o Hélio quisemos encarar.


Texto e Fotos: Mario Friedlander