sexta-feira, 18 de novembro de 2011

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA E APRESENTAÇÕES CULTURAIS MARCARÃO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


Em homenagem ao Dia da Consciência Negra, neste domingo, 20, a City Lar promoverá apresentações artísticas no evento Citylândia, que transformou a loja Planeta City Lar na cidade encantada do Natal. Dança, música, capoeira e teatro de grupos de Cuiabá vão compor a programação que inicia as 10h e se estende até as 20h, na loja localizada na Av. Fernando Corrêa da Costa, em Cuiabá.

A loja ainda recebe entre esta sexta, 18, e a segunda, 21, a exposição de fotos  “Retratos da Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade", do fotógrafo Mario Friedlander, coordenador do Projeto Paralelo 15.

As imagens foram produzidas durante as viagens do Projeto Paralelo 15, em um esforço de conhecer e documentar as populações de Afrodescendentes que vivem em Mato Grosso. A exposição faz parte das comemorações do Ano Internacional dos Afrodescendentes e do Mês da Consciência Negra. O Projeto Paralelo 15, é uma iniciativa entre Brasileiros e Bolivianos, e pretende dar visibilidade as minorias Afrodescendentes da Bolívia e de Mato Grosso. Já foram realizadas três viagens de documentação, expedicionando por locais pouco conhecidos da América, predominantemente habitado por Afrodescendentes.


Para mais informações sobre as atividades da City Lar no dia da Consciência Negra:
Dinomercio Gueno – gerente de comunicação Máquina de Vendas Norte
dino@citylar.com.br
(65) 9982-9058

Para mais informações sobre o Projeto Paralelo 15:
projetoparalelo15@gmail.com
mariofriedlander@gmail.com
www.projetoparaleloquinze.blogspot.com

Afromundo - Exposição Fotográfica


Exposição Fotográfica "Afromundo" de 21 de novembro a 21 de dezembro de 2011.

O Projeto Paralelo 15 e a Revista Afromundo, em parceria com o MISC-Cuiabá e o Cuiabá Color estarão promovendo uma exposição fotográfica em homenagem ao movimento da Consciência Negra, que é comemorado em todo o Brasil.

A exposição mostra retratos e cenas do cotidiano e das celebrações dos Afrobrasileiros de Vila Bela da Santíssima Trindade e dos Afrobolivianos da região dos Yungas em plena República da Bolívia.

As imagens foram produzidas pelo fotógrafo Mario Friedlander, coordenador do Projeto Paralelo 15 e Editor da Revista Afromundo, que em dezembro será lançada em Cuiabá.

O Projeto Paralelo 15, é uma iniciativa entre Brasileiros e Bolivianos, que pretende dar visibilidade as minorias Afrodescendentes da Bolívia e de Mato Grosso, já realizou tres viagens de documentação, expedicionando por locais pouco conhecidos da América, predominantemente habitado por Afrodescendentes.

A Revista Afromundo, abordará questões relativas aos Povos Tradicionais, Cultura Popular, Turismo e Sustentabilidade, tanto em Mato Grosso quanto em outras partes de nosso Afromundo, a América e o primeiro número será lançado no início de dezembro em Cuiabá, devendo ser lançada na Bolívia no início de 2012.

O Guia de Turismo, Hélio Caldas, proprietário da Stilo Livre Eco Expedições, com sede em Chapada dos Guimarães, o Escritor Luca Spinoza da Ideas y Letras, boliviano radicado em Santa Cruz de La Sierra, grande produtor de livros, especialmente de aventuras e meio ambiente destinados ao público infanto-juvenil e o designer gráfico Luiz Arruda, Corumbaense radicado em Cuiabá, dono da marca Arruda Arte Visual, formam o grupo principal de aventureiros e entusiastas que tem percorrido muitos lugares e histórias interessantes e raras.

A exposição fotográfica, destaca que 2011 é o Ano Internacional dos Afrodescendentes, e mostra um pouco deste universo cultural localizado nos confins da América.

A exposição fica aberta ao Público a partir de segunda-feira dia 21 de novembro, das 14 as 18 hs na Sala Mestre Albertino, no segundo Piso do Museu da Imagem e do Som, MISC-Cuiabá, localizado na esquina da rua Pedro Celestino com rua Voluntários da Pátria em pleno Centro Histórico de Cuiabá.

Para maiores informações:

projetoparalelo15@gmail.com
revistaafromundo@gmail.com
mariofriedlander@gmail.com

Visite nosso site:
www.projetoparaleloquinze.blogspot.com 

sábado, 5 de novembro de 2011

Novembro - Mês da Consciência Negra

O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado em 20 de Novembro e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Anualmente, um número cada vez mais significativo de entidades civis, principalmente o movimento negro, tem se mobilizado em todo país, em torno de atividades relativas à participação da pessoa negra na sociedade.

Confira a programação nacional aqui:
http://www.seppir.gov.br/destaques/novembro-mes-da-consciencia-negra/novembro-mes-da-consciencia-negra

El país en el que las empanadas tumbaron a McDonald's

Lorena Arroyo
BBC Mundo
Última actualización: Martes, 1 de noviembre de 2011


McDonald´s intentó adaptarse a los gustos locales pero no tuvo éxito.
Su gran "M" amarilla sobre fondo rojo es reconocible practicamente en cualquier parte del mundo y es uno de los símbolos de la globalización, pero hay un lugar de América Latina en el que la cadena de hamburguesas McDonald's no tuvo el éxito esperado.
Fue en Bolivia donde, pese a que el restaurante intentó adaptarse a los gustos locales (incluyó la llajwa, la salsa con la que los bolivianos aliñan sus platos, y música folclórica), no logró triunfar.
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Por eso, en 2002 y después de cinco años en el país, la cadena de hamburguesas decidió cerrar sus ocho sucursales en La Paz, Cochabamba y Santa Cruz.
Ahora el documental "¿Por qué quebró McDonald's en Bolivia?" explora el motivo por el que los habitantes de esas ciudades le dieron la espalda a las hamburguesas más populares del mundo.
"La cultura le ganó a una transnacional, al mundo globalizado", afirma en conversación con BBC Mundo Fernando Martínez, director del documental.
Para Martínez, una de las claves de ese fracaso fue el precio, ya que, según explica, el menú más barato costaba entonces 25 pesos bolivianos (algo más de 3 dólares), mientras que, por ejemplo, en La Paz, en la actualidad se puede conseguir un almuerzo completo en un mercado popular por 7 bolivianos (menos de un dólar).
"Es fácil atribuirlo a la economía, pero detrás de ella están las personas, la sociología y los aspectos culturales", matiza Martínez al explicar que esos precios tan asequibles se deben a la relación de los bolivianos "cercana a la tierra" que les lleva a comer platos con los productos tradicionales "de sabores intensos y fuertes y de muchas horas en la cocina".
Viaje a través de la comida boliviana
El documental muestra cómo se prepara la khala purka, una sopa que se calienta con piedra volcánica.
El documental, que se acaba de estrenar en Bolivia después de pasar por varios festivales internacionales, hace un recorrido por el país sudamericano a través de su comida.
El viaje cinematográfico comienza en Potosí, con la preparación de la khala purka (una sopa de maíz espeso con ají y charque que se calienta con una piedra volcánica) y también lleva a Cochabamba a conocer los famosos "trancapechos de doña Betty", un generoso sándwich cochabambino que lleva arroz, carne y huevo frito.
McDonald´s en Sudamérica
  • Argentina: 192
  • Brasil: 480
  • Chile: 55
  • Colombia: 97
  • Ecuador: 19
  • Paraguay: 7
  • Perú: 20
  • Uruguay: 19
  • Venezuela: 180
Datos del documental "¿Por qué quebró McDonald´s en Bolivia?
Además de visitar mercados tradicionales, en el documental también entrevistan a chefs de la comida nueva boliviana, a historiadores, nutricionistas, sociólogos y al que fue dueño de la franquicia de McDonald's en Bolivia, Roberto Udler.
"Yo había crecido haciendo varios viajes al exterior y la verdad que miraba con envidia que otros países tenían Mc Donald's y nosotros no", confiesa el empresario en el documental, donde explica que la multinacional decidió cerrar todas las franquicias que estaban en zonas conflictivas después de los atentados 11 de septiembre.
Sin embargo, los bolivianos en cuanto a gustos, lo tienen claro. Y, como dice la canción que pone la banda sonora al documental "a mi paladar no se le impone ni cómo ni cuándo".
Por eso, en Bolivia siguen triunfando los platos tradicionales como las empanadas salteñas, el pan con queso, el fricasé, el majadito o el silpancho.

Notícia do site:

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

'Carretera' deixa Bolívia em pé de guerra


Local: São Paulo - SP
Fonte: Valor Econômico
Link: http://www.valoronline.com.br/
Fabio Murakawa
Uma SUV branca levanta poeira na estrada de terra que cruza o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure, ou Tipnis, no centro da Bolívia.  Na porta do veículo, o logotipo da construtora brasileira OAS.  Dentro dele viajam um funcionário da empresa, o senador governista Julio Salazar e o repórter do Valor.  Quando o carro entra no vilarejo de Icoya, dezenas de pessoas já estão esperando.  Os moradores erguem cartazes e começam a gritar: "Queremos carretera [estrada]!  Queremos carretera!".

A cena ocorre poucos dias depois de o presidente Evo Morales, sob intensa pressão de movimentos indígenas, ter assinado uma lei que impede que a rodovia, financiada pelo Brasil, passe pelo local.

O conflito, que monopolizou o noticiário do país nos últimos meses, colocou em pé de guerra alguns dos grupos que levaram Morales ao poder, provocou um racha em sua base nos movimentos sociais e debilitou o seu governo.

Em campos opostos, estão indígenas que vivem ao norte do parque, no Departamento [Estado] de Beni, e colonos agrícolas e cocaleiros de Cochabamba, berço político de Morales, interessados em escoar a sua produção e ampliar a suas fronteiras agrícolas.  Essa situação deixou o presidente em uma sinuca: ex-líder cocaleiro, ele chegou ao poder em 2006 com amplo apoio dos povos nativos.  Ambos os grupos ganharam poder com a ascensão de Morales, que colocou na Constituição o direito dos indígenas sobre seus territórios e reduziu a zero a repressão aos plantadores de coca, tida como um "bem cultural" do país.

A estrada, de 306 km, foi projetada para ligar diretamente Beni a Cochabamba, encurtando em cerca de 500 km um caminho que hoje precisa passar por Santa Cruz, reduto da oposição.  Para isso, teria que cortar ao meio o Tipnis, no chamado trecho 2, de 177 km.
Sem terem sido consultados pelo governo, e com as obras já em andamento nos trechos 1 e 3, os índios iniciaram em agosto uma marcha de mais de 500 km rumo à capital para pressionar o governo a impedir a passagem da estrada pelo parque.  Uma violenta repressão policial aos marchistas, no dia 25 de setembro, só fez aumentar o apoio popular à causa.  Cenas de indígenas apanhando algemados e com as bocas atadas por fitas adesiva chocaram os bolivianos.

A entrada dos índios em La Paz, em 19 de outubro, foi triunfal.  Cerca de 500 mil pessoas a esperavam nas ruas da capital.  Muitos choravam e abraçavam os indígenas, que recebiam comida, remédios, cobertores no caminho para o ponto final da marcha: o palácio presidencial.

A calorosa recepção dos habitantes da capital fortaleceu os índios e deixou ainda mais pressionado o presidente, cuja aprovação atingiu o seu ponto mais baixo, de 35%, após o ataque da polícia.  Depois de quatro dias de negociações dentro do Palácio Quemado, Morales elaborou, enviou ao Congresso e sancionou uma lei proibindo que essa e qualquer outra estrada atravesse o Tipnis.

Os cerca de 1.200 indígenas começaram a deixar La Paz na manhã seguinte à aprovação da lei, em 25 de outubro.  Enquanto empacotavam seus pertences, eles exaltavam a vitória na queda-de-braço com o presidente, a quem passaram a ver como um "traidor" a serviço dos cocaleiros de Cochabamba e de interesses "imperialistas" do Brasil.
"Nós [Bolívia] não temos grandes indústrias para dizer que essa estrada nos vai beneficiar enormemente", disse ao Valor Fernando Vargas, presidente da Subcentral Tipnis, que se tornou celebridade nacional após a marcha.  "O ex-presidente [do Brasil] Lula convenceu Evo Morales a mudar a sua mentalidade política, plural e comunitária, para uma política entreguista, a uma política capitalista."

Rafael Quispe, presidente do Conselho Nacional de Ayllus e Marcas do Qullasuyu (Conamaq), era o mais antibrasileiro dos líderes indígenas.  Sorridente, ele tirava fotos com bolivianos que vinham parabenizá-lo pela vitória, mas fechou a cara quando foi abordado pela reportagem do Valor.  "Vocês [brasileiros] estão f... a Bolívia.  O que você quer que eu te diga?  Vocês vieram f... o país."

O projeto de uma conexão entre Beni e Cochabamba é antigo.  A estrada já era vislumbrada pelo presidente Antonio José de Sucre (1825-1828).  Mas só começou a avançar após um acordo entre Morales e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu segundo mandato, sob circunstâncias que a oposição boliviana e os indígenas classificam como suspeitas e que causam desconforto a setores do governo brasileiro.
A OAS foi a única empresa brasileira a participar em 2008 da licitação da rodovia, orçada em US$ 415 milhões.  Lula, então, articulou para que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) financiasse 80% da obra, segundo fontes do governo.  Mas havia um problema: os indígenas não haviam sido consultados.  A solução encontrada foi dividir as obras em três trechos e começar os trabalhos pelos extremos, deixando o processo de licenças ambientais e consultas relativos ao trecho 2, que atravessa o parque, para uma etapa posterior, quando a estrada já seria fato consumado.

Mas a estratégia não colou entre índios, que vinham tentando dialogar com o governo sobre a obra desde 2007, quando surgiram os primeiros boatos de que a rodovia sairia do papel.  Assim que as máquinas da OAS começaram a trabalhar, eles articularam a marcha, que culminou na humilhante derrota de Morales, obrigado a recebê-los em plena sede do governo para assinar uma lei que praticamente inviabiliza a obra que ele tanto havia defendido.

Segundo a OAS, desviar a estrada por fora do parque provocará um aumento do percurso de cerca de 200 km.  E, de acordo com diferentes fontes, a mudança pode encarecer a obra em US$ 250 milhões e exigir um novo financiamento.  Mas engenheiros ligados à obra afirmam que fazer esse desvio não será tão simples.  Se ele for projetado a oeste, a rodovia passará por uma região de serra, o que aumentaria ainda mais os custos, com impactos ambientais maiores.  A leste, terá que atravessar uma área pantanosa, e o caminho ficará alagado durante a estação chuvosa.

Em meio ao impasse, o BNDES não liberou nenhum real do financiamento acertado com o governo boliviano, e as dívidas da Administradora Boliviana de Carreteras (ABC) com a OAS por trabalhos executados já chegam a US$ 110 milhões.  Fontes em Brasília dizem que uma corrente no governo, preocupada com a imagem de "Brasil imperialista" que a obra deixou nos bolivianos, defende que o empréstimo seja anulado.

Uma autoridade brasileira disse ao Valor na semana passada que o governo está disposto a aumentar o valor do empréstimo, mas exigirá do governo boliviano um processo "menos atabalhoado" de consultas e licenças ambientais.  O Brasil também espera, segundo essa autoridade, "boa vontade" de La Paz em temas como a devolução de cerca de 2.000 carros brasileiros roubados, identificados em território boliviano durante um polêmico processo de regularização de automóveis sem documentos no país.

Apesar da lei assinada pelo presidente anulando a construção do trecho 2 da estrada, setores dentro do MAS, o partido de Morales, além de líderes cocaleiros e colonos em Cochabamba, não se deram por vencidos e ainda contam com o traçado da rodovia em seu projeto original.

O Valor visitou na semana passada comunidades agrícolas na parte sul do Tipnis, na área do município de Villa Tunari.  A região, ocupada por pequenas vilas agrícolas, plantações de coca e aldeias indígenas, é o berço político de Morales.  O sentimento geral, ali, era de frustração e revolta contra os indígenas do norte, e o presidente era visto como uma vítima da pressão de líderes de entidades "financiadas por ONGs e madeireiras ilegais" que atuam no parque.

A reportagem percorreu cerca de 60 km de uma estrada precária de terra dentro do Tipnis, - no exato traçado por onde passará o trecho 2 da rodovia, em um carro da OAS, junto com um funcionário da construtora e o senador Salazar, do MAS, partido de Morales.  Salazar é um histórico aliado do presidente no movimento cocaleiro e mora em um casebre azul no vilarejo de Aroma, bem ao lado de onde vai passar a rodovia.  Foi necessário cerca de nove horas para percorrer o trajeto, ida e volta, passando por quatro rios dentro do Tipnis.

Sabendo da visita do Valor à região, o senador mobilizou os moradores a preparar recepções para a reportagem, que esteve nas vilas de Isinuta, Villa Bolívar, Aroma, Icoya e Ichoa.  Em todas essas escalas, a cena se repetia: uma comissão de líderes comunitários abria a porta do carro; mulheres jogavam papel picado branco na cabeça do repórter, em sinal de "boas-vindas"; moradores, posicionados nas duas bordas da estrada, seguravam cartazes e gritavam palavras de ordem pedindo a construção da "carretera".  Salazar descia do carro e anunciava que "a imprensa internacional" finalmente lhes daria ouvidos, já que a mídia local só publicava notícias contra o governo.  Em Icoya, dezenas de crianças em uniformes escolares cercaram o jornalista gritando "Queremos carretera!  Queremos carretera!  Queremos carretera!".

Apesar de as manifestações terem sido organizadas pelo senador, pareceu que o desejo e a necessidade desses moradores de que a rodovia seja construída são autênticos.  Durante a passagem da comitiva, agricultores pediam para ser fotografados ao lado de cestos com bananas, mandiocas, vagens e outros produtos agrícolas.

Eles tentavam mostrar, com isso, que a estrada não beneficiará somente o transporte da folha de coca, que tem parte de sua produção desviada para a fabricação de cocaína, como alegam as entidades indígenas e os opositores da obra.  Estima-se que cerca de 60% da cocaína boliviana tenha como destino o Brasil.  Em outubro, a polícia desmantelou um dos maiores laboratórios de cocaína já encontrados na Bolívia dentro do Tipnis, o que alimentou a suspeita de de que a obra ajudaria o tráfico.

"Essa estrada não serve ao narcotráfico, mas para que nossos irmãos tenham uma vida melhor", disse ao Valor Leonilda Zurita, ativista cocaleira e líder do MAS em Cochabamba.  "Talvez esses narcotraficantes tenham apoiado a marcha indígena, porque eles atuam em território indígena.  A estrada aumentaria o controle [sobre o narcotráfico]."

Em Villa Bolívar, um agricultor puxa o repórter pelo braço até o seu laranjal e mostra as frutas apodrecendo no pé.  "Olha só como estão essas laranjas.  Sem a estrada, não tenho como vender a minha produção", diz ele, repetindo um argumento ouvido pela reportagem durante todo o trajeto.

Outra queixa é que a precária estrada de terra que hoje atravessa o parque dificulta o acesso dos moradores aos serviços de saúde e educação.  As crianças que moram em áreas mais afastadas são obrigadas a ir à escola na caçamba de velhos caminhões Mercedes que, segundo o senador Salazar, foram usados pela Alemanha durante a segunda Guerra Mundial (1939-1945).  "Quando chove, os rios transbordam e nós não podemos passar", diz uma menina de Icoya, entre as dezenas de crianças que cercam o repórter.  "Eu quero uma estrada para ir conhecer o Brasil", brinca outra criança.

Segundo o senador Salazar e a cocaleira Zenilda, a rivalidade entre Morales e os empresários de Santa Cruz também contamina o debate em torno da estrada.  Sem uma ligação direta, todo o comércio entre Beni e Cochabamba tem que passar por Santa Cruz.  Beni é hoje o principal centro de produção pecuária da Bolívia, com 3 milhões de cabeças, segundo dados do governo.  "As oligarquias de Santa Cruz compram gado de Beni a preço de banana, ficam com os animais por dois meses e revendem com lucro para Cochabamba", afirma Salazar.

Empresários de Santa Cruz ouvidos pelo Valor rechaçam a afirmação de que a estrada prejudicaria seus interesses.  Mas eles estão mais alinhados à posição dos indígenas no conflito.  "A Bolívia precisa desenvolver uma estrutura rodoviária, que hoje é muito insuficiente.  Mas o traçado da estrada que une Beni a Cochabamba podia ter sido outro, que não cruze o parque", diz Luis Barbery, presidente da Câmara de Indústria, Comércio, Serviços e Turismo de Santa Cruz (Cainco).  "Os parques nacionais foram criados há muitos anos, e nós temos a responsabilidade de preservá-los, para que se cumpra o motivo para o qual estão sendo preservados, que é oxigenar o mundo."

Apoiados por indígenas do sul do parque, que também pedem a estrada, os cocaleiros preparam um contra-ataque para reverter a lei assinada por Morales.  Nos últimos dias, realizaram vigílias em Cochabamba e falam em também realizar uma marcha a La Paz.
Durante a incursão pelo Tipnis com a reportagem do Valor, o senador Salazar bateu várias vezes no ombro do funcionário da OAS, que dirigia a SUV: "Fique tranquilo, companheiro.  Essa estrada vai sair!".
 
As obras nos trechos 1 e 3 seguem conforme o previsto.